quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um pouco sobre minha mãe - Bipolaridade


Olá Pessoal,

Hoje eu fiquei com vontade de falar um pouco sobre a minha mãe. Desde que nasci sei que ela tem transtorno afetivo bipolar - TAB. O TAB caracteriza-se por oscilações de humor, onde o paciente varia de forma cíclica entre estados depressivos e maníacos (que eu prefiro chamar de agitados). Quando tratada, a pessoa entra em equilíbrio e leva uma vida extremamente normal.  Desde pequena lembro-me dessas oscilações da minha mãe: tinha época que ela era muito animada, cheia de energia e otimismo e em outras ela ficava pessimista, chateada e sem ânimo. Contam-me que a primeira crise dela aconteceu quando ela engravidou de mim. Neste primeiro episódio ela ficou internada em um sanatório (que não existe mais graças a luta antimanicomial), em tratamento intensivo para sair do surto. Sempre penso que estar com ela naquele primeiro momento da minha vida pode ter causado algo em mim, não físico, pois nasci prematura e perfeita. Algo mais espiritual, sei lá...
Após isso, ela começou um tratamento ambulatorial e voltou ao seu equilíbrio, podendo assumir seu papel de mãe e esposa recém-casada. A medicação sempre a deixou sob controle, levando uma vida normal.
Durante muitos anos essas variações de humor sempre foram sutis, às vezes uma depressão um pouco mais forte. Lembro-me de um episódio, que na fase depressiva, ela não tinha vontade nem de tomar banho e nessa época eu já tinha a minha irmã, que ficava sob minha responsabilidade (ela é cinco anos mais nova do que eu). Para agravar o quadro, meu pai foi ausente fisicamente por alguns anos, pois foi trabalhar no Japão. Sempre falei pouco sobre isso, mas nesse período me senti extremamente sobrecarregada: eu fazia o papel de mãe da casa. Até hoje eu quero cuidar de toda a família!
Em 1999 a minha mãe teve outra crise e foi internada novamente. Desta vez tivemos a sorte de encontrar o Centro de Tratamento Bezerra de Menezes (CTBM), que cuida de pacientes com transtornos mentais e dependência química de uma forma muito mais humana que os antigos manicômios. Novamente foi uma fase difícil... é muito ruim ver o ser que te gerou e cuidou de você nesta situação: dopada, drogada, com o raciocínio lento...
Um dos problemas da minha mãe é que, apesar de fazer o tratamento necessário, quando ela se sente melhor, ela para de tomar a medicação! E pode até demorar, mas o surto vem!
Este ano ela surtou outra vez! Novamente ela foi internada no CTBM. Não sei porquê, mas esta foi a vez mais difícil para mim. Sofri muito em vê-la frágil e dopada. Acho que eu sinto culpa, por não ter cuidado dela direito, de não ter forçado a voltar ao psiquiatra quando parou os remédios, de não estar tão perto...
Nesta internação ela foi submetida a uma equipe multidisciplinar, composta pelo psiquiatra, psicóloga, nutricionista e terapeutas ocupacionais, além de uma equipe de enfermagem extremamente competente. Além disso, o CTBM implantou o Programa de Família, onde toda sexta-feira durante a internação um familiar, além de fazer a visita ao paciente tinha a possibilidade de uma reunião em grupo com o psiquiatra e o psicólogo responsável pelo tratamento.
Nessas reuniões tive contato com outros familiares, que passam pelo mesmo que eu e minha família. Também pude aprender com a equipe um pouco mais sobre a doença da minha mãe e também como agir com ela! Sabe, isso tudo me fez sentir menos sozinha no mundo, me confortou num momento tão complicado.
Minha mãe ficou internada por 30 dias e hoje ela está de alta, em casa, fazendo seu tratamento. O que eu mais quero é que ela encontre novamente o equilíbrio e volte a ser a minha mãe, porque eu ando cansada de ser mãe dela!
Esse blog, acho que já falei, também é um espaço para um desabafo, uma forma de refletir sobre os acontecimentos enquanto escrevo. Percebo que amo demais a minha família e a minha mãe, mas preciso consertar algumas coisas em nosso relacionamento. Assumo que tenho mágoa por algumas coisas. Assumo também que ainda tenho vergonha do problema dela (muita gente acha que ela é louca,não tem noção que a doença mental não se resume na loucura ), e mais: assumo que tenho medo de ficar igual a ela, de perder o controle sobre a minha mente (o Dr. Rômulo  diz que o bipolar em crise vira uma espécie de mula sem cabeça, não consegue lidar com os sentimentos).
A pouco tempo comecei um tratamento psicológico, pois percebi que preciso cuidar de mim e a aprender a lidar com um monte de coisas que tenho guardadas no porão escuro da minha mente. Espero que dê certo!
Só poderei ajudar a minha mãe se eu estiver bem, caso contrário ficaremos as duas, "loucas".

PS: Quero muito, mas muito mesmo agradecer ao meu querido esposo, o Alê, por todo suporte durante esses mais de trinta dias. Pelo amor, carinho, compreensão e amizade, desde sempre!

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